Articulação ensino e serviço para a formação de profissionais de saúde em libras

Postado em 31/05/2019

Rebeca Farias Jordão
Egressa do Curso de Enfermagem Unichristus
Maria Maísa Farias Jordão
Docente do Curso de Enfermagem Unichristus
Maria Rosivy de Oliveira
Enfermeira da Educação Permanente do Hospital Infantil Albert Sabin
Deborah Pedrosa Moreira
Docente do Curso de Enfermagem Unichristus
Eugênio Santana Franco
PhD em Enfermagem.

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão, por meio da Lei 10.436/02, e regulamentada pelo Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que trata do direito à educação bilíngue e à garantia do direito à saúde das pessoas surdas ou com deficiência (BRASIL, 2005).

A língua, a linguagem e a comunicação são responsáveis pelas interações sociais e pelo desenvolvimento das relações interpessoais. As políticas públicas em saúde voltadas para esse público e os equipamentos sociais são poucos acessíveis para atender às demandas de pessoas com deficiência (RAMOS, 2017), em especial, as pessoas surdas.


Abertura do Curso de Libras no Hospital Infantil Albert Sabin, Fortaleza, Ceará, 2018.

Na saúde, a maneira principal de criar vínculo é a comunicação entre o profissional e o usuário/familiares. Para que essa comunicação ocorra de forma satisfatória, atendendo às necessidades do paciente, é necessário adotar estratégias para facilitar a comunicação, minimizando as barreiras (CHICON et al. 2013). Vale ressaltar que a pessoa surda deve ter acesso aos serviços de saúde de forma integral para o mesmo se torne de fato universal para todas as populações e comunidades, inclusive as minoritárias. Hoje em dia, o surdo não recebe atendimento hospitalar ou de saúde primária de maneira adequada e satisfatória, com grandes índices de frustrações e falta de resolutividade (SOUZA et al., 2017).

Diante dessa situação, da experiência e da necessidade demandada pelo Hospital de referência em pediatria em nível terciário do estado do Ceará ao Centro Universitário Christus (Unichristus), durante as vivências práticas dos alunos no semestre, esse pleito foi apresentado para análise mediante a articulação entre ensino e serviço existente.

Essa solicitação ampliou os espaços de diálogo, visto que gerou envolvimento dos profissionais com o olhar na formação diferenciada e de qualidade.


Peça em Libras sobre uma história infantil, Fortaleza, Ceará, 2018.

Portanto, esse relato traz como objetivo a experiência do Curso de Libras para a equipe multiprofissional do hospital pediátrico de referência do estado do Ceará, localizado no munícipio de Fortaleza – CE.

A Coordenação de Enfermagem da Unichristus articulou uma parceria com o Hospital Infantil Albert Sabin – HIAS – para promover o Curso Libras para profissionais de saúde com o objetivo de qualificar 40 profissionais do serviço, com carga horária de 40h, realizado no período de setembro a novembro de 2018.

O curso foi conduzido por professores da instituição de ensino que lecionam sobre o tema e articulado com as necessidades oriundas da coordenação de Educação Permanente do hospital.

Participaram desse curso profissionais e residentes do HIAS: enfermeiro, técnico de enfermagem, psicólogo, nutricionista, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, cirurgião-dentista, assistente social, recepcionista, auxiliar administrativo e técnico em informática, que representaram os setores de nutrição, banco de leite, estomaterapia, farmácia, almoxarifado, epidemiologia, serviço social, centro de imagem, residência, coordenação de enfermagem, educação permanente, terapia ocupacional, blocos hospitalares, emergência, serviço geral, ouvidoria, psicologia e ambulatório.


Peça em Libras sobre uma história infantil, Fortaleza, Ceará, 2018.

O Curso de Libras foi um importante instrumento de mudança na realidade social que o surdo está inserido atualmente. A acessibilidade nos espaços de saúde deve ser amplamente discutida em todas as suas variáveis, e esse curso de extensão estimulou todos os profissionais que lidam diariamente com pacientes a contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e inclusiva, demonstrando respeito pelo cidadão surdo enquanto usuário do serviço de saúde.

Os alunos foram participativos, e houve interação efetiva nas atividades práticas, como na aula de literatura surda em que foram divididos em dois grupos e cada um apresentou uma narrativa infantil em Libras. Eles escolheram uma história já existente e adaptaram com características próprias da cultura surda. Outro momento foi na aula de corpo humano, saúde e coletividade, na qual os alunos simularam um atendimento ao paciente surdo e seus familiares.

Como trabalho final de curso, confeccionaram um vídeo com o uso da língua de sinais, de forma individual, respondendo à seguinte pergunta: “Qual a importância da Língua de Sinais para a sua profissão? ”.

A análise dos vídeos demonstrou que, depois das atividades, os profissionais tiveram uma visão diferenciada, pois agora sabem da importância da língua e da necessidade em estudar sobre o tema, e, nesse contexto, irão conseguir prestar uma assistência de qualidade, inserindo o surdo e sua família dentro do fluxo hospitalar.

Esse diagnóstico apresenta uma perspectiva de trabalho e de desenvolvimento profissional que se apresenta como desafiador nas evidências de Souza et al. (2017) em que o principal obstáculo enfrentado pela comunidade surda no acesso à saúde está relacionado à barreira linguística, em decorrência de diversos impedimentos, como falta de treinamento dos profissionais de saúde, dificuldades financeiras para contratar intérpretes e ausência de adaptações para pacientes surdos. Dessa forma, o curso possibilitou inclusão na comunicação entre profissionais, pacientes e familiares e ofertou aos profissionais de saúde o conhecimento e a vivência sobre a língua e suas particularidades, para que o surdo seja reconhecido enquanto sujeito, com sua cultura própria, contribuindo para uma maior interação em situações assistenciais, garantindo, assim, a integralidade do cuidado.

Referências:

BRASIL. Decreto n. 5.626 – Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília, 2005.

CHICON, José Francisco; SOARES, Jane Alves. Compreendendo os Conceitos de Integração e Inclusão. Cadernos de pesquisa em educação PPGE, Espírito Santo, v. 2, n. 0, p. 11-36, 2013.

RAMOS, Tâmara Silva; ALMEIDA, Maria Antonieta Pereira Tigre. A importância do ensino de LIBRAS: relevância para os profissionais de saúde. Id on line  Rev. Psic., v. 10, n. 33, 2017. SOUZA, Maria Fernanda Neves Silveira de et al . Principais dificuldades e obstáculos enfrentados pela comunidade surda no acesso à saúde: uma revisão integrativa de literatura. Rev. CEFAC,  São Paulo ,  v. 19, n. 3, p. 395-405,  jun.  2017.