Um estudo realizado por pesquisadores do Ceará aponta que idosos do estado estão mais vulneráveis à infecção pela Covid-19 com base num sistema de crenças e comportamentos locais.
Eles consideram o comportamento comunitário como fator importante para evitar a elevação do número de casos e mortes, mas há resistência em obedecer ao isolamento social com o passar da idade – principalmente após os 80 anos.
“O idoso que tem funcionalidade e autonomia e consegue sair de casa tende a querer romper mais com o processo. Ele não quer ficar limitado a um lugar. Em casa, sem contato, também pode ficar mais deprimido ou ansioso”, observa Danilo Lopes, professor de Odontologia da Universidade de Fortaleza. Ele assina o artigo com o também professor universitário Jiovanne Rabelo Neri.
Para este grupo etário, existe a crença de que a pandemia será menor no Ceará que em outros estados afetados (62,5%), que o Ceará tem alguma proteção ao vírus diferente de outros lugares (62,5%), que o clima favorecerá a diminuição da pandemia no estado (100%) e que condições sanitárias ruins levarão a população mais pobre a um nível de contaminação maior que na população de alta renda (75%).
Pesquisa
Até esta segunda-feira (6), a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) contabilizou 1023 casos confirmados e 31 óbitos pela doença. Além dos idosos, a pesquisa “COVID-19 no Estado do Ceará” identificou vulnerabilidades em homens, pessoas com baixa escolaridade e residentes em cidades do Interior do Estado.
O estudo questionou as crenças de 2.259 cearenses em 19 de março, um dia antes de entrar em vigor o primeiro decreto do Governo do Estado recomendando o início do isolamento social. Atualmente, a medida foi prorrogada e tem validade até 20 de abril. A coleta dos dados foi realizada antes da quarentena para evitar mudanças durante o confinamento, já que a população teria maior acesso à informação.
Sobre a quarentena voluntária com reclusão total, apenas 17,4% dos homens aderiu. Entre as mulheres, a taxa foi de 24,4%.
“Constatar isso dos homens não é surpresa”, afirma Danilo Lopes. “Eles sempre são os que buscam menos os serviços de saúde. A mulher vai muito mais atrás do autocuidado”.
Na análise por escolaridade, a reclusão total foi maior entre a população de graduados (23,4%) e pós-graduados (22,7%). Dos que tinham apenas o Ensino Fundamental, só 9,1% permaneceram totalmente em casa.
Para Danilo Lopes, é esse grupo que exige maior atenção das autoridades. “Quanto menor a escolaridade, maior é a crença de que viver em situação de pior condição sanitária e de já ter pego várias viroses faz o organismo delas estar mais preparado. Quando passam a desacreditar que podem pegar doença, elas se torna mais vulneráveis.”, avalia.
O estudo indica que esses indivíduos estariam mais propensos a contrair a infecção porque utilizam transporte público e moram e frequentam locais com mais pessoas. Além disso, teriam menos recursos para adotar medidas preventivas, como a compra de álcool em gel para higienização das mãos, e medidas terapêuticas, como o uso de medicamentos paliativos.
Conforme Danilo Lopes, os resultados indicam que o Governo do Estado e a Prefeitura de Fortaleza têm adotado medidas adequadas nas políticas de enfrentamento à pandemia. A pesquisa cearense será publicada em maio, na Revista Ciência & Saúde Coletiva, editada pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).