Vinte e sete professores do Curso de Direito, ligados aos primeiros semestres ou ao Núcleo de Prática Jurídica, foram escolhidos para participar de uma capacitação mais que especial. Durante os dias 26 e 27 de março e 13 e 14 de maio de 2019, paramos (quase) todas as nossas atividades para redescobrirmos o prazer de exercer um outro papel – o de alunos.
Mas, definitivamente, essa não era uma sala de aula comum.
Duas professoras da FGV-SP, Marina Feferbaum e Denise Andrade, ambas são referência na área de metodologias ativas, esperavam-nos à porta, sorrindo, munidas de uma caixa de ferramentas inusitadas, que iam de blocos de Lego a games tecnológicos, com a mesma naturalidade.
Tivemos de superar desafios complexos e interdisciplinares, ora em engenharia naval (“Alguém aí ainda lembra como é que se faz um barquinho de papel?”), ora em engenharia civil (“Duvido que vocês construam uma torre de macarrões mais alta que a da minha equipe.”). Mas nada se compara aos desenhos multicoloridos que fizemos com canetinhas Hidrocor – abria-se, de novo, uma janela para a infância.
A essa altura, os leitores mais céticos devem estar se perguntando o que levaria um grupo tão respeitável (e ocupado) de professores de Direito a passar horas e horas brincando como se nunca tivessem saído do ensino fundamental. Logo no início do curso, essa mesma dúvida parecia desenhar-se no olhar espantado de alguns colegas, enquanto outros, felizes da vida, apenas se lançavam ao desconhecido.
Em pouco tempo, as últimas resistências e perplexidades foram vencidas. É que, após cada atividade, havia um rico momento de debate, no qual depurávamos o sentido daquela metodologia específica, a fim de compreendermos os seus objetivos e vantagens, assim como diagnosticávamos, na prática, os desafios de implementação e os modos de superá-los. Dessa forma, estávamos “aprendendo a fazer, fazendo”, como prescrevera Jacques Delors, em seu relatório para a UNESCO sobre a educação do futuro.
Ao longo desses dias de imersão, não se ouvia falar em zona de conforto. As equipes eram diferentes a cada rodada, e tínhamos de aprender a interagir com os colegas mais diversos, em situações desafiadoras, cujo tempo de realização era rigorosamente cronometrado. Para que tudo corresse a contento, o foco era fundamental. Cada tarefa exigia capacidade de planejamento, organização, liderança, criatividade, concentração, resiliência, improvisação e, claro, muito bom humor para rir diante dos nossos eventuais fracassos.
Nesses encontros, o que estava em jogo não era o conteúdo aparente daquelas atividades, mas sim as múltiplas habilidades e competências requeridas a cada proposta. Tínhamos de completar tarefas surpreendentes em prazos exíguos, construindo redes internas de colaboração no contexto próprio de cada nova equipe formada, ao mesmo tempo que éramos desafiados por um sistema externo de competição em relação às demais equipes.
Assim, aquela sala de aula, supostamente tão pueril, era um verdadeiro laboratório de simulação dos desafios profissionais que nossos alunos terão de enfrentar – uma metáfora da complexa engenharia social que o mercado de trabalho atual nos reserva.
Não por acaso, as novas diretrizes curriculares nacionais do Ministério da Educação, voltadas ao Curso de Graduação em Direito (Resolução n. 5, de 17 de dezembro de 2018), enfatizam a promoção do modelo de ensino jurídico participativo, em face do tradicional modelo expositivo, focado apenas no conteúdo. Para a professora Mirna Siebra, Coordenadora do NPJ do Curso de Direito da Unichristus: “Uma formação docente dessa natureza é importante, pois nos dispõe a pensar no processo ensino-aprendizagem pelo olhar do discente, de modo a considerar suas necessidades, priorizando suas contribuições e realocando o estudante como protagonista desse processo.”
Já para o Prof. Cristiano Moita, a capacitação “nos proporcionou uma rica e transformadora experiência acadêmica, além de inaugurar uma mudança da cultura institucional”. Para o docente, “Entender o que simbolizam esses novos métodos de ensino e de aprendizagem fica mais fácil se fizermos o esforço de ver as coisas de outro ponto de vista: um ensino não centralizado na figura do professor, mas na do aluno. Perceber que o ensino e a aprendizagem são completamente alterados quando o aluno passa a ser sujeito ativo desse processo é o primeiro passo – e o fundamental – para compreender esse novo formato de aula”.
Por sua vez, a Profa. Mariana Zonari considerou que a capacitação foi “sensacional” e nos explicou que, no intervalo de um mês e meio entre o primeiro e o último encontro, ela já começou a aplicar, na sua sala de aula, algumas das experiências aprendidas durante a formação, tendo recebido muitos feedbacks positivos. Por outro lado, Melissa Veiga não aguentou esperar por essa matéria e tratou de já ir compartilhando, em seu perfil no Instagram, um registro entusiasmado sobre as suas vivências durante a formação.
Leitura prévia, protagonismo, inovação, estudo de casos, técnicas variadas de debate e uso de tecnologia foram apenas alguns dos veículos que conduziram esse processo. A lição fundamental, que levamos para casa, é o dever de tornar a nossa sala de aula uma experiência cada vez mais transformadora, significativa e gratificante.
A todos os que acreditaram nessa possibilidade subversiva, nossos agradecimentos!
Afinal, nós merecemos aprender com alegria. Nossos agradecimentos a todos os que acreditaram nessa possibilidade subversiva!
Colaboradoras:
Profa. Dra. Fayga Bedê Profa. Dra. Andréia Costa